O Sapo

O Sapo

O Sapo
Da Costa e Silva

Feio e fátuo a fingir de grande, gordo e guapo;
hediondo e humilde a inchar de empáfia e ocioso orgulho,
viscoso de vaidade, entronado no entulho,
cisma na solidão, sorno e soturno, o sapo.

Os bugalhos em brasa, a palpitar o papo,
acocorado, absorto, ao mínimo barulho
que o sossego lhe suste, em súbito mergulho
se atasca no atascal; e ei-lo escondido e escapo.

Patriarca de paul, pelo pântano parco
de água, a arfar e a imergir no lodo liso e imundo,
o batráquio bubuia, o corpo curvo em arco...

E sobe à superfície o rei das rãs, rotundo,
glabro e inchado, a coaxar no lamaçal do charco,
como o ser mais soberbo e singular do mundo.