As Meninas

As Meninas

AS MENINAS é um livro de Lygia Fagundes Telles. Conta com adaptações para o cinema (1995) e para o teatro (2010).

 

A seguir, a brilhante conversa entre Ana " Turva", uma das personagens, e Lygia - contada pela autora numa palestra.


"(...) Segue-se então o momento mais emocionante da palestra, quando Lygia relata a 'conversa' que teve com uma das personagens de As Meninas:

– Estava escrevendo a morte da Ana Clara. Drogas, drogas, cocaína... morreu. Estava escrevendo a cena, quando Ana Clara, a morta, vem e diz:

Ana Clara: Ô Lygia, você me matou por quê?

Lygia: Porque estava na hora de você morrer, coisa. Deixa eu trabalhar quieta. Estou desesperada. Está amanhecendo e eu tenho que acabar o livro.

Ana Clara: Você me matou e eu tenho coisas tão importantes para dizer.

Lygia: Agora é tarde.

Ana Clara: Eu sou a personagem melhor do seu livro. Eu vou desaparecer? Eu tenho tantas coisas interessantes para dizer.

Lygia: Depois você vai dizer.

Ana Clara: Mas eu vou voltar?

Lygia: Você ainda vai voltar, Ana Clara. Não sei como nem quando, mas você ainda vai voltar.

Ana Clara: Eu quero ver, hein?

Lygia: Mas põe uma máscara.

– Aí, ela desapareceu. E eu comecei a chorar. Caí em prantos. O escritor é histérico também. Eu estava me despedindo daquelas moças com as quais eu convivi por três anos. Claro! Me apaixonei por elas. As personagens gostam da vida como nós mesmos. Elas se apegam. Elas querem amar."

 

LYGIA F. TELLES X MAITÊ PROENÇA

Em 2009 estreiou a peça "As Meninas", de Maitê Proença e Luís Carlos Góes. A coincidência dos títulos não agradou Lygia, que ameaçou ir na estréia da peça, subir no palco e fazer a acusação. Maitê defende-se, dizendo:

"As Meninas é um nome de domínio público. É como a árvore, o coqueiro, os homens. É um nome que o Velázquez usou num quadro de 1700, muito conhecido, que tá lá no Museu do Prado (em Madri, Espanha). Ela vai chamar o Picasso de ladrão, vai chamar o Velázquez de ladrão? Ou foi ela que roubou o nome do Velázquez?"

 

Pintura: As Meninas, Diego de Velázquez