Poesia

Pior Velhice

Pior Velhice
Pior Velhice Florbela Espanca Sou velha e triste. Nunca o alvorecer Dum riso são andou na minha boca! Gritando que me acudam, em voz rouca, Eu, náufraga da Vida, ando a morrer! A Vida, que ao nascer, enfeita e touca De alvas rosas a fronte da mulher, Na minha fronte mística de louca ...

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Tristeza do Infinito - Cruz e Souza

Tristeza do Infinito - Cruz e Souza
Tristeza do Infinito Anda em mim, soturnamente, uma tristeza ociosa, sem objetivo, latente, vaga, indecisa, medrosa. Como ave torva e sem rumo, ondula, vagueia, oscila e sobe em nuvens de fumo e na minh'alma se asila. Uma tristeza que eu, mudo, fico nela meditando e meditando,...

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Tédio - Cruz e Souza

Tédio - Cruz e Souza
"Mudas epilepsias, mudas, mudas, Mudas epilepsias, Masturbações mentais, fundas, agudas, Negras nevrostenias. Flores sangrentas do soturno vício Que as almas queima e morde... Música estranha de fetal suplício, Vago, mórbido acorde... (...) Florescência do Mal, hediondo parto Tenebroso...

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Penso, logo cago - Glauco Mattoso

Penso, logo cago - Glauco Mattoso
#5 PENSO, LOGO CAGO [1977] Glauco Mattoso Eu não nasci, pois não me lembro de isso ter acontecido. Não morri, pois também não me lembro que isso tenha acontecido. E, se não nasci nem morri, das duas uma: ou sou Deus ou não existo. Ora, como nem tudo que eu quero acontece e nem tudo que...

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[sem título]

[sem título]
Usamos, eu e vocês, a mesma língua, as mesmas palavras. Mas que culpa temos, eu e vocês, se as palavras, em si, são vazias? Vazias, meus caros. E vocês as preenchem com o seu sentido, ao dizê-las a mim; e eu, ao recebê-las, inevitavelmente as preencho com meu sentido. Pensamos que...

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Dia de visita - Silvio Ribeiro de Castro

Dia de visita - Silvio Ribeiro de Castro
Dia de visita Todos os domingos ele faz a barba e veste sua melhor roupa. Compra um pacote de biscoitos e prepara o suco de laranja. Sentado num banco no jardim do asilo, junto aos outros velhos, espera a visita dos filhos. Este domingo, mais uma vez, eles não vieram. Mas também,...

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Comigo me desavim - Mario de Sá-Carneiro

Comigo me desavim - Mario de Sá-Carneiro
COMIGO ME DESAVIM Comigo me desavim, Sou posto em todo perigo; Não posso viver comigo Nem posso fugir de mim. Com dor, da gente fugia, Antes que esta assim crescesse: Agora já fugiria De mim, se de mim pudesse. Que meio espero ou que fim Do vão trabalho que sigo, Pois que trago a mim...

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Quando nasci... (Interpoetividade)

Quando nasci... (Interpoetividade)
Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. (Carlos Drummond de Andrade) * Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu tava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o...

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Ismália - Alphonsus de Guimaraens

Ismália - Alphonsus de Guimaraens
Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe...

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